Vamos limpar a bunda em primeiro lugar


Abaixo segue uma das tantas obras do blog Torre de Marfim de autoria de Marcos Matamoros e F. Arranhaponte. Muito engraçado! Recomendo com muita força!

Sim, roubamos, e daí?

Me incomoda um pouco a fúria moralista com a qual os muitos roubinhos, roubos, roubões, roubaços e roubadas que têm lugar cotidianamente na mãe-gentil são tratados pela mídia, intelectuais, etc. Tá certo, roubar é feio, ninguém contesta isto. Mas quão feio é? Que alma latina, por exemplo, condenaria o gol de mão do Maradona na Copa do Mundo, contra a Inglaterra - um roubo lato sensu? Quando eu era adolescente, era comum bandos de amigos, todos de classe média, entrarem nas lojas de conveniência bem mais acanhadas de então para a excitante experiência de cometer pequenos furtos, uma chave de fenda aqui, um adesivo acolá. Conheci muitos casos de jovens turistas na Europa, naquelas excursões vapt-vupt pelas principais capitais, passando a noite no xilindró por tentativa de roubo em lojas de departamento. Restrinjo-me a uma classe social, porque não quero me alongar, mas não me venha com a lengalenga de que a elite é ladra e o povo honesto - você larga seus objetos pessoais em cima da mesa e vai dar uma volta em ambientes populares? Meu ponto é: somos cleptomaníacos, o que obviamente traz problemas para o desenvolvimento sócio-econômico, mas pode ser mitigado por uma Justiça eficaz. Mas não considero aquela característica tão horripilante quanto nossa intelligentsia faz crer. Por exemplo, os alemães têm fama de mais honestos do que a média do povos, mas perpetraram o Holocausto. Não é melhor ser um povo cleptomaníaco do que genocida?

Sim, roubamos, e daí? II

Eu sempre condenei a visão de que o brasileiro é mais corrupto ou mais ladrão do que os outros povos. Estereótipo auto-depreciativo que não leva a nada, pensava eu. Por que condenar a priori um povo alegre e brincalhão, malandro e malemolente, como cleptomaníaco? Um acontecimento recente, porém, mostrou que eu estava errado. Não, não estou falando do mensalão ou de qualquer outro escândalo político. Na semana passada, num desses programas de auditório de alto nível intelectual, descobri que nem mesmo uma das instituições brasileiras mais respeitadas é imune à corrupção. Para quem não sabe, o concurso para a morena do É o tchan está sob suspeita de ser um jogo de cartas marcadas. Eu confesso que fiquei chocado. Como ficam as ilusões de milhares de gostosas brasileiras, que têm em concursos como esse a sua única esperança de melhorar de vida e de mostrar o que têm de melhor? Você diz que uma Justiça eficaz pode reduzir o impacto negativo sobre a economia da cleptomania do brasileiro. Mas como confiar nos Judiciário de um país em que até mesmo juízes do concurso da morena do É o tchan estão sob suspeita? Senhores, a crise é realmente grave

Sim, roubamos, e daí? III

Caraca, este bundogate é gravíssimo! Eu, que acompanho atentamente a cena cultural brasileira, não tinha ouvido falar disto. Ia fazer um post dizendo que comentaristas como o Arnaldo Jabor exageram quando descrevem a crise moral no Brasil com tintas dantescas, mas percebo agora que, de fato, Sodoma e Gomorra são aqui (e que nossa Sodoma tem pés de barro). E incrível mesmo é o silêncio dos intelectuais diante deste escândalo. Durante décadas, nossa identidade nacional foi construída em torno da bunda, graças à pesquisa seminal de
Gilberto Freyre, e agora que a idoneidade dos nossos mais decantados traseiros está em questão, não ouço um pio de todos aqueles que nos venderam a ilusão de que rebolando chegaríamos lá. Aguardo o fascinante artigo do Roberto da Matta sobre a questão

PS (meia hora depois): Pensando bem, mais valeria dizer que nossa Sodoma tem bundas de barro, opss

Sim, roubamos, e daí? IV

O problema da corrupção no concurso da morena do É o tchan é mais grave do que se imagina. Afinal, se há armação na edição atual, quem pode garantir que também não houve picaretagem nas anteriores? Parece irrelevante, mas e se a
Scheila Carvalho, por exemplo, foi escolhida num concurso viciado? Acho que muitos brasileiros prestaram homenagens a ela na suposição de que Scheila Carvalho é uma gostosa honesta, que venceu um concurso difícil por seus próprios méritos. Se houve corrupção na escolha de Scheila, um bando de masturbadores éticos pode ter comprado gato por lebre. Esses caras vão reclamar no Procon? Eles vão ficar de mãos vazias

PS: Isso mostra que fazer justiça com as próprias mãos não é mesmo um bom negócio

Sim, roubamos, e daí? V

É, parece que a fraude está se tornando onipresente no Brasil, invadindo os momentos mais íntimos da população. Nem o prazer solitário escapa da corrupção generalizada. É por isto que eu acho inoportuna esta discussão sobre reforma política. Não faz sentido querer moralizar partidos e campanhas eleitorais antes que a pureza de instituições muito mais básicas, como a bunda da morena do Tchan e as honestas punhetas dela decorrentes, seja restaurada. Proponho um slogan para uma campanha moralizadora que não coloque o carro na frente dos bois: "Vamos limpar a bunda em primeiro lugar". Fica a sugestão para o Guia Genial, que,
em declarações recentes , mostrou-se sensível a temas pertinentes ao WC

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